2 de outubro de 2010

EQUADOR EM CLIMA DE GUERRA

O Equador enfrenta um clima tenso nesta quinta-feira (30) por conta de protestos de policiais e militares em três cidades do país. Há relatos de comércio fechado e saques na capital, Quito, e em Guayaquil.

Militares tomaram as pistas do aeroporto de Quito, que estava fechado. O prédio do Congresso também foi tomado, segundo Julia Ortega, porta-voz do Legislativo.

O presidente Rafael Correa afirmou que não vai recuar do projeto que prevê cortar benefícios aos militares, e o comando militar manifestou lealdade a ele. Correa teve de usar máscara de gás para deixar um quartel, após discursar para tropas que protestavam, e foi hospitalizado logo a seguir.

Centenas de policias e militares foram às ruas em Quito, Guayaquil e Cuenca protestar contra proposta de legislação, feita pelo presidente Rafael Correa, que reduziria seus ganhos, tirando bônus e incentivos.

Eles queimaram pneus, ocuparam instalações militares e chegaram a fechar acessos às cidades.

Discurso de Correa
Em clima tenso, o presidente Correa discursou durante a manhã em um quartel do Exército em Quito e disse que não cederia.

“Não darei nenhum passo atrás. Se quiserem, tomem os quarteis, se quiserem deixar a cidadania indefesa e se quiserem trair sua missão de policiais”, afirmou Correa em uma acalorado discurso ante dezenas de militares que tomaram o principal regimento de Quito.

“Se quiserem matar o presidente, aqui estou, matem-no se tiverem vontade, matem-no se tiverem poder, matem-no se tiverem coragem ao invés de fiar covardemente escondido na multidão”, disse. “Se quiserem destruir a pátria, aí está! Mas o presidente não dará nem um passo atrás.”

Correa teve de usar máscara de gás para deixar o lugar, segundo relatos de testemunhas.

Depois de sair do regimento, Correa tirou a máscara e foi levado ao vizinho hospital da polícia, onde entrou de maca, mostrando sinais de asfixia por gás lacrimogênio.

Dois militares também ficaram feridos, segundo o hospital militar.

Comando promete lealdade
O principal comandante militar do Equador, general Ernesto González, afirmou que os soldados seguem leais a Correa.

“Nós estamos sob o estado de direito, estamos subordinados à máxima autoridade que é o senhor presidente da República”, disse em entrevista na cidade de Cuenca.

Ele disse que iria tomar as medidas necessárias para restabelecer a ordem.

Chanceler
O ministro de Relações Exteriores, Ricardo Patiño, disse que não há protestos populares, mas que os atos da polícia são “inaceitáveis e intoleráveis”.

“Esta não é uma insurreição popular, é uma insurreição de alguns grupos da polícia que estão mal informados porque, caso contrário, não fariam isso”, acrescentou.

Patiño denunciou ainda que, por trás das mobilizações militares e policiais, podem haver setores golpistas que buscam desestabilizar o país.

O ministro coordenador de Segurança Interna e Externa, Miguel Carvajar, disse que o país está em situação “delicada” e enfrentando um processo de “desestabilização do governo e da democracia”.

O presidente do Banco Central do Equador, Diego Borja, pediu calma, dizendo à população que não saque seu dinheiro dos bancos.

“O pior que poderia ocorrer neste momento é entrar em pânico, sacar dinheiro, colocar-se em risco porque saem do banco e podem ser assaltados”, disse Borja. Com o protesto de policiais, foram registrados alguns roubos a bancos nas últimas horas.

Procurada pelo G1, a Embaixada do Equador no Brasil afirmou que não iria falar sobre o assunto até que haja uma declaração oficial do governo equatoriano.

Aeroporto
Cerca de 500 policiais e militares teriam tomado a pista do aeroporto, segundo a rádio pública do Equador.

“Cerca de 150 efetivos da Força Aérea Equatoriana tomaram a pista do aeroporto Marechal Sucre e também a rua na entrada”, afirmou à rádio Quito o porta-voz da empresa administradora Quiport, Luis Galárraga. Ele acrescentou que o pessoal está formado em ambas as pistas e que, por motivos de segurança, é impossível dar prosseguimento às operações.

Impasse
Os protestos militares ocorrem ao mesmo tempo que o país enfrenta um impasse entre Correa e congressistas do seu próprio partido.

Mais de metade dos 124 parlamentares são oficialmente do bloco de Correa, mas o presidente teria entrado em atrito com eles porque eles não teriam concordado com propostas de austeridade e para reduzir a burocracia estatal – e nas quais estão incluídos os cortes nos benefícios para policiais e militares.

Correa estaria considerando dissolver o Parlamento, para governar por decreto até a convocação de novas eleições, segundo a ministra Doris Solis.

A dissolução da Assembleia é uma possibilidade prevista na Constituição aprovada em 2008, que permite ao presidente adotar a medida e convocar eleições imediatas para a escolha de novas autoridades legislativas e um novo presidente. Ela precisaria ser aprovada pelo tribunal constitucional.

Solís acrescentou que a decisão final dependerá de uma reunião convocada pela Assembleia Nacional para reconsiderar a votação sobre reformas legais que visam reduzir as dimensões da máquina pública.

“Estávamos avaliando. Ainda não foi tomada uma decisão. Nossa bancada tem a obrigação de ser coerente com o projeto. Desta maneira não é possível fazer política, e menos ainda um projeto de transformações”, disse a ministra, depois de uma reunião com o presidente, parlamentares e funcionários do governo.

O país, de 14 milhões de habitantes, tem uma longa história de instabilidade política.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) convocou uma reunião de emergência para analisar o caso, nesta tarde em Washington.

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